
terça-feira, outubro 04, 2005Bem aventurados os pacifistasQuando eu tinha uns 10 anos li um livro do Pe. Zezinho, se não me engano chamado “Bem aventurados os pacifistas.” Lá pelas tantas, o protagonista, um menino, se questionava : “Como gente grande fala pra gente não matar passarinhos, enquanto eles fazem guerra?” A guerra é normal, os conflitos são necessários, e as mortes não chocam mais. Questionados sobre se achavam que George Bush exagerou na hora de justificar as ações contra o Iraque, uma grande parte da população americana afirmou que sim. Mas grande parte desta grande parte votaria nele de novo. Há mentira pra legitimar uma guerra, mas isto não importa. Mas voltando ao Referendo do dia 23: Que o jornalismo imparcial é utopia, e que nem seja mais desejado, tudo bem, mas a Veja desta semana abriu as pernas, né? Reportagem de capa: 7 razões para votar não. A proibição vai desarmar a população e fortalecer o arsenal dos bandidos. A revista toma o partido da frente contra a Lei do Desarmamento e aponta 7 motivos que poderiam ser reduzidos a 4 ou 5, mas a redundância é grande e necessária para persuadir. Aqui, além da presença marcante das expressões “pessoas do bem” e “cidadãos do bem”, uma argumentação, repetida em 2 dos motivos me chamou a atenção: a medida aumentará o comércio ilegal de armas. Mas fica claro que: 1. Bandidos não compram armas legais 2. Pessoas de bem possuem armas legais 3. Não haverá mais comércio legal 4. Aumentará o tráfico de armas Tá, deixa a minha cabecinha tonta entender. Se as armas do bandido já são ilegais, o tráfico vai aumentar porque os bandidos vão aumentar ou porque eles vão querer mais armas? “A medida, além de contribuir para o crescimento do mercado clandestino, pode colocar o cidadão de bem em situação irregular. Mesmo se tiver uma arma registrada em casa, ele não poderá comprar munição, a não ser de forma ilegal. Com o é obvio, a proibição do comércio legal de armas terá como conseqüência inevitável a ampliação do trafico ilegal”. (grifo meu) Revista Veja, ed. 1925, 05/10/05 É “inevitável” que as pessoas de bem passem à ilegalidade!!! Por isto o tráfico vai aumentar. Daí pra comparações com álcool e drogas um pulinho. Eu só queria entender, ou melhor eu não quero entender, porque me parece cruel demais: será que atirar em alguém é tão prazeroso quanto beber ou quanto o primeiro baseado? Porque é esta a lógica da bebida e dos entorpecentes, né? A busca pelo prazer. Este é o grande problema da pós-modernidade, definir o que é o bem e o que é o mal. E aí o cidadão do bem se torna um ilegal, pra poder continuar com um direito que lhe foi tirado pelo estado tirano. Podiam aproveitar e fazer a revolução também, né? Ou melhor, pra que outro Estado: Anarquia já! (sim, estou sendo irônica) E aqui entra o segundo grande argumento da reportagem: a polícia está falida. A reportagem começa dizendo que discutir a venda de armas é desviar a discussão do verdadeiro problema, que é a ineficácia da polícia. Correto, este é o problema maior. Mas ao final da reportagem, reforçado por vários argumentos, a impressão que fica é: A polícia está falida, o Estado também, e não tem jeito, é preciso se armar, porque a polícia nunca estará onde deve estar e nunca conseguirá punir os bandidos. Acusa-se o Estado de não corrigir a polícia, mas em nenhum momento ela é creditada. Aí parece que nem vale a pena reestruturá-la. Bom, cada um vai puxar a sardinha pro seu prato, óbvio, mas acho que o que realmente está faltando é dizer o que é esta lei, o que implica. Porque não é um referendo sobre poder ou não poder comprar armas. Há muitas outras questões, inclusive medidas como aumentar penas e aperfeiçoar o sistema de registro. No caso da Revista Veja, nem no site, onde não falta espaço, há um link que seja para ler a lei na íntegra. Se alguém quiser ler, tem no link que eu coloquei no post abaixo, sobre o referendo. Para quem quiser ver as campanhas: http://www.referendosim.com.br http://www.votonao.com.br Ah, só pra terminar com o grau de pessimismo que me dá quando eu acho que pessoas de bem comprarão armas no mercado ilegal: "Há esperança suficiente, esperança infinita - mas não para nós." Franz Kafka Kathia 10:25 PM
Fale vc tbém:
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